Livro aborda soluções urbanas para a crise climática atual. Acesse a publicação gratuitamente.

Com apoio da AESabesp, obra "Cidades e a Emergência Climática" reúne especialistas da USP para discutir soluções urbanas inovadoras e práticas para mitigar os impactos das mudanças climáticas
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A crise climática é um dos temas mais urgentes da atualidade, afetando diretamente as cidades e o cotidiano de milhões de pessoas ao redor do mundo. A obra “Cidades e a Emergência Climática”, lançada durante o 35º Encontro Técnico e Fenasan 2024 e que tem apoio da AESabesp, propõe reflexões sobre as soluções urbanas para mitigar os efeitos dessa crise. O livro foi organizado pelas pesquisadoras Laura Macedo, Maria Cecília Lucchese e Marta Godoy, no âmbito do Centro de Síntese Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Ester Feche, diretora socioambiental e cultural da AESabesp, é uma das autoras. A obra surge em um momento socioambiental crítico, trazendo contribuições de diversos pesquisadores que atuam diretamente nas questões relacionadas à urbanização e ao meio ambiente (acesse a publicação neste link https://aesabesp.org.br/arquivos/cidades-e-a-emergencia-climatica.pdf).

Segundo o professor Arlindo Philippi Jr., chefe de Gabinete do Reitor da Universidade de São Paulo (USP), a ideia de reunir esses estudos e produções científicas partiu do Centro de Síntese USP Cidades, vinculado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). “Anualmente, o centro promove editais para seleção de projetos de pesquisa, possibilitando que pós-doutorandos e pesquisadores colaboradores desenvolvam estudos em áreas importantes, como a sustentabilidade urbana. Esses pesquisadores, sob supervisão de professores da USP, dedicam-se a atividades que integram ciência e prática, visando soluções aplicáveis aos desafios que as cidades enfrentam diante das mudanças climáticas”, informa.

Os organizadores do livro, Laura, Maria Cecília e Marta, além de supervisionadas por professores da USP, integram um grupo de estudiosos que participam de projetos de pesquisa no Centro de Síntese. Philippi Jr. explica que esses pesquisadores atuam de forma independente, mas sempre em diálogo com os docentes da instituição. “Os pós-docs, geralmente, são aqueles que estão mais recentemente formados, enquanto os pesquisadores colaboradores já possuem uma trajetória mais longa no campo acadêmico e científico”, ressalta.

Estrutura do livro

No caso do livro “Cidades e a Emergência Climática”, a participação ativa desses especialistas se reflete em capítulos que discutem diferentes dimensões do problema climático. Além dos estudos teóricos, os pesquisadores buscam oferecer soluções práticas que possam ser adotadas tanto por gestores públicos quanto por entidades privadas.

O professor conta que a obra está dividida em cinco partes principais, cada uma dedicada a um aspecto específico da crise climática e sua relação com as cidades. A primeira seção, por exemplo, foca na educação, discutindo como a conscientização e a formação acadêmica podem contribuir para mitigar os impactos das mudanças climáticas. 

Sendo assim, o Capítulo 1 aborda a “Contribuição da pós-graduação em planejamento urbano para ações de enfrentamento à mudança do clima e seus impactos”, com participações de Cláudia Terezinha Kniess, Débora Sotto, Tatiana Tucunduva P. Cortese, Arlindo Philippi Jr. e Marcos Silveira Buckeridge.

No capítulo 2 são tratadas as “Ações Educacionais como caminho para o combate às causas e consequências das mudanças climáticas nas cidades”, com colaborações de Ariane Baffa Lourenço, Thelmo de Carvalho Teixeira Branco Filho, Manuela Prado Leitão, Vinícius Perez Dictoro, Gérsica Moraes Nogueira da Silva e Tadeu Fabrício Malheiros. Segundo Philippi Jr., essa seção destaca, ainda, a importância de uma educação voltada para o desenvolvimento sustentável, capacitando gestores e cidadãos a entenderem e enfrentarem os desafios climáticos.

Em seguida, o livro aborda a questão da transição energética. “A transformação no setor energético é considerada um passo fundamental para combater os efeitos da crise climática nas cidades. Pesquisadores analisam o papel das energias renováveis, como a eólica, que surge como uma alternativa viável para reduzir a dependência de fontes fósseis e garantir o acesso equitativo à energia”, ressalta o professor.

Sob o tema “Da transição para a transformação: democratizando a energia na escala local”, o Capítulo 3 conta com a participação de Marta Arantes Godoy.

No capítulo 4, os autores Elaine Cristina Silva dos Santos, Maria da Penha Vasconcellos e Rogério António de Castro Coelho abordam o tema “Energia Eólica e Territórios em transformação: uma análise geoespacial na transição energética brasileira”.

Professor Philippi Jr. pontua que a transição energética, segundo os especialistas, requer políticas públicas que fomentem a inovação tecnológica e o financiamento de iniciativas sustentáveis em todos os setores da economia.

A terceira parte do livro trata das vulnerabilidades e riscos relacionados às mudanças climáticas. Philippi Jr. comenta que os autores discutem os impactos dos eventos extremos, como enchentes e secas, que têm atingido diversas regiões do Brasil. “Por meio de estudos de caso, são analisadas as áreas mais suscetíveis a esses eventos e como as políticas de ocupação do solo podem agravar ou mitigar os danos causados. Nesta parte, o capítulo 6 traz uma análise detalhada sobre Avaliação Ambiental Estratégica, destacando como essa ferramenta pode ajudar a prever e reduzir os riscos em áreas urbanas e periurbanas”, observa.

Nesta seção, o Capítulo 5 contempla a “Estimativa da população exposta a riscos de ameaças naturais em municípios brasileiros: um método integrativo para a redução de riscos”, com os especialistas Fabiana Lourenço e Silva Ferreira, Rita Marcia da Silva Pinto Vieira, Daniela Ferreira Ribeiro, Brenda Chaves Coelho Leite e Sílvia Midori Saito.

E o Capítulo 6 trata das “Inundações e ocupações: um estudo e um caso oportunos para avaliação ambiental estratégica”, com as colaborações de Filipe Antonio Marques Falcetta, Rosane Segantin Keppke e Amarilis Lucia Casteli Figueiredo Gallardo.

Saneamento e recursos hídricos

Outro tema central abordado na obra é a relação entre saneamento básico e a crise climática. O livro dedica uma seção inteira a discutir como a gestão da água e dos recursos hídricos pode contribuir para aumentar a resiliência das cidades frente aos desafios climáticos. “Exemplos de boas práticas no Brasil e em outros países são apresentados, destacando como o planejamento adequado e a gestão sustentável podem evitar desastres, como inundações, e garantir o abastecimento de água mesmo em períodos de estiagem severa”, descreve Arlindo Philippi Jr..

Deste modo, o Capítulo 7 aborda o “Enfrentamento de eventos extremos sobre os ativos dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário: exemplos de referência em cidades no Brasil”, com as participações de Ester Feche Guimarães e Tadeu Fabrício Malheiros.

A preservação de áreas verdes e a gestão dos recursos hídricos em áreas urbanas e periurbanas também são tratadas com profundidade no livro. De acordo com o professor, os capítulos exploram a importância de manter áreas de recarga de aquíferos e preservar matas ciliares, essenciais para a manutenção do ciclo hidrológico e a proteção contra eventos climáticos extremos. “O uso inadequado do solo e a expansão descontrolada das cidades são apontados como fatores que agravam a crise hídrica em diversas regiões do país”, salienta.

O tema é tratado no Capítulo 8 sobre “Gestão sustentável da água no contexto periurbano”, com Alejandro Dorado e Milton Gimenez Melero.

Outro destaque na obra “Cidades e a Emergência Climática” é a Seção Verdejamento Urbano, que é contemplada no Capítulo 9 “Uso de infraestrutura Verde e Azul como ação climática: um levantamento em cidades do Sul Global”, com colaborações de Laura S. Valente de Macedo e Julio Zambrano.

“A infraestrutura verde e azul, que inclui parques, jardins, rios e áreas naturais dentro das cidades, é apresentada como uma solução eficaz para combater os efeitos das mudanças climáticas”, aponta Philippi Jr..

O livro também discute como a adoção de soluções baseadas na natureza pode melhorar a qualidade de vida urbana e contribuir para a mitigação dos impactos climáticos. “A inclusão de espaços verdes no planejamento urbano é uma estratégia que visa não apenas melhorar o microclima das cidades, mas também aumentar sua resiliência diante de eventos extremos, como ondas de calor e enchentes”, ressalta o professor.

Este tema é contemplado no Capítulo 10 sobre “Soluções Baseadas na Natureza: contribuições para sua aplicação no planejamento urbano”, com as especialistas Maria Cecília Lucchese e Amanda Silveira Carbone.

Já a temática apresentada no Capítulo 11 trata da “Integração da infraestrutura verde no gerenciamento costeiro: contribuições para o alcance das metas de vegetação nativa e áreas verdes em São Sebastião – SP”, com participações de Marcia Renata Itani e Amarilis Lucia Casteli Figueiredo Gallardo.

Além disso, o livro explora a importância da vegetação nativa e de projetos de paisagismo, como os propostos pelo arquiteto Burle Marx, que integram a preservação ambiental ao planejamento urbano. “Estudos de caso, como o ocorrido em São Sebastião após o desastre climático do ano anterior, são utilizados para demonstrar a eficácia dessas práticas”, explica Arlindo Philippi Jr., e complementa: “é o que os leitores podem ver no Capítulo 12 sobre ‘Paisagismo e Mudanças Climáticas: recomendações para a arquitetura paisagística pelo pensamento de Burle Marx’, de autoria de Fabio Cesar Moreira Manente”.

O impacto da obra e a expectativa para o lançamento

O lançamento do livro na Fenasan 2024 e no 35º Encontro Técnico da AESabesp gera grande expectativa entre gestores públicos, pesquisadores e representantes do setor privado. O objetivo é que a obra sirva como uma ferramenta valiosa para tomadores de decisão, oferecendo subsídios científicos para a elaboração de políticas públicas mais eficazes e a implementação de práticas sustentáveis nas cidades brasileiras.

“A crise climática, que já causa impactos severos em diversas regiões do Brasil, como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Centro-Oeste e Norte do país, é uma realidade que precisa ser enfrentada com urgência”, frisa Arlindo Philippi Jr.. De acordo com ele, o livro “Cidades e a Emergência Climática” pretende não apenas diagnosticar os problemas, mas também apontar caminhos e soluções para que as cidades possam se adaptar e se preparar para um futuro incerto, mas que exige respostas imediatas.

A obra, portanto, é destinada a um público diversificado, que inclui gestores municipais, estaduais e federais, além de acadêmicos, estudantes e profissionais das áreas de meio ambiente, saneamento e urbanismo. A proposta é que os conhecimentos reunidos no livro possam ser aplicados de forma prática, ajudando a construir cidades mais resilientes e sustentáveis.

Ressaltando o importante trabalho das organizadoras do livro, Laura Macedo, Maria Cecília Lucchese e Marta Godoy, o professor Philippi Jr. lembra a importância da colaboração entre universidades e governos para o enfrentamento da crise climática. “Acreditamos que as universidades brasileiras, com seus vastos recursos intelectuais e capacidade de pesquisa, são fundamentais para oferecer soluções inovadoras e embasadas cientificamente para os problemas que afligem as cidades”, expõe.

Além disso, o professor afirma que temos um parque universitário distribuído por todo o Brasil, com professores, estudantes e pesquisadores altamente capacitados. “É fundamental que as instâncias governamentais reconheçam esse potencial e utilizem esses recursos para a tomada de decisões que possam melhorar a vida da população e mitigar os impactos da crise climática”, expressa.

Com o lançamento de “Cidades e a Emergência Climática”, durante os maiores eventos de saneamento e meio ambiente da América Latina e que estão trazendo nesta edição o tema central “Saneamento Ambiental: condição fundamental para o enfrentamento das mudanças climáticas”, espera-se que esse diálogo entre academia e poder público seja ampliado, promovendo uma maior integração de esforços em prol de um desenvolvimento urbano sustentável e resiliente.