SOS Mata Atlântica: mais do que cuidar das florestas, ONG atua pela causa da água

A Fundação SOS Mata Atlântica é uma das ONGs ambientais mais atuantes no Brasil. Entre seus objetivos destacam-se a promoção de políticas públicas para a conservação da Mata Atlântica por meio do monitoramento do bioma, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com os setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental, comunicação e engajamento da sociedade.
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A Fundação SOS Mata Atlântica é uma das ONGs ambientais mais atuantes no Brasil. Entre seus objetivos destacam-se a promoção de políticas públicas para a conservação da Mata Atlântica por meio do monitoramento do bioma, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com os setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental, comunicação e engajamento da sociedade.

Desde sua criação, a ONG tem construído um longo histórico de trabalhos com o tema Água também. Nesta entrevista com Gustavo Veronesi, geógrafo e coordenador técnico do projeto “Observando os Rios”, vamos conhecer um pouco desse trabalho. Confira:

Revista Saneas – Como surgiu a iniciativa de atuar em prol da causa “água limpa” investindo na despoluição dos rios da Mata Atlântica?

Gustavo Veronesi – A SOS Mata Atlântica já tem um longo histórico de trabalhos com o tema “água” e isso começou no início da década de 90, quando um jacaré apareceu nas águas do rio Tietê, na capital paulista, e as pessoas se mobilizaram para entender, primeiro, como que um jacaré apareceu nas águas sujas do rio e, depois, para cobrar a sua limpeza. Na época, a SOS Mata Atlântica organizou um abaixo assinado que coletou 1.200.000 assinaturas em prol da despoluição do rio Tietê e, com essa mobilização da sociedade, começou a obra de despoluição do rio, que dura até hoje, e já está na quarta etapa. Fazemos o acompanhamento desse projeto através do monitoramento da qualidade da água do rio. Surgiu, assim, o “Observando o Tietê”, e hoje trabalhamos monitorando os rios em todas as  regiões onde atuamos, nos 17 estados brasileiros que têm a mata atlântica.

Revista Saneas – Por que essa causa é importante?

Gustavo Veronesi – Dependemos da água para tudo. Nosso corpo não fica três dias sem consumir água diretamente. Precisamos de água para os nossos alimentos, para a limpeza da nossa casa, para a nossa limpeza pessoal, precisamos de água para fabricação de praticamente todos os utensílios e todas as coisas que nós usamos no dia a dia. Aqui, no Brasil, precisamos de água, inclusive para gerar energia elétrica. Então, a água é vital. É um insumo que precisamos sempre, por isso, devemos gerir e cuidar melhor desse bem tão importante, esse recurso tão precioso e, que, infelizmente, tratamos tão mal.

Revista Saneas – Quais os principais desafios da SOS Mata Atlântica para alcançar os objetivos em prol da água? Quais resultados alcançados até o momento?

Gustavo Veronesi – O grande desafio, principalmente no Brasil, é o mito da água em abundância. Crescemos com essa história de que temos muita água e, realmente, o Brasil tem muita água potável (cerca de 3% das reservas de água doce do planeta estão no País), porém tratamos muito mal essa água. Poluímos a água que depois vamos consumir e fica caro para despoluir. Portanto, temos que trabalhar melhor essa questão e o grande desafio é ter uma gestão mais adequada da água.  Ao longo do tempo temos observado a criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que são as instâncias decisórias para o gerenciamento da água em nível nacional. São ganhos muito expressivos ao longo do tempo saber que temos mais de 200 Comitês de Bacias Hidrográficas instalados pelo Brasil e que tem essa força de decidir o que acontece e ouvir também a sociedade, composta por todos os usuários, poder público e cidadãos, que podem fazer parte dos comitês e participar ativamente da gestão da água.

Revista Saneas – Como são feitas as ações de divulgação e conscientização em prol da despoluição dos rios da Mata Atlântica? Quem são os parceiros da SOS Mata Atlântica nesse trabalho, por exemplo?

Gustavo Veronesi – Atualmente, contamos com a parceria e apoio da Ypê. Com esse patrocínio conseguimos expandir a causa da água limpa através do projeto “Observando os Rios” para os 17 estados da Mata Atlântica. Essa iniciativa começou no ano de 2015, mobilizando as comunidades e, também, através de um trabalho constante com os nossos grupos voluntários. Hoje, são mais de três mil voluntários espalhados pelo Brasil, que analisam mais de 300 pontos em rios da Mata Atlântica. Além disso, fazemos um trabalho constante de acompanhamento desses grupos, prestando apoio para o monitoramento, trabalhos de sensibilização, de capacitação e de treinamento. Enfim, estamos sempre divulgando o tema. Também usamos os canais da SOS Mata Atlântica, por meio das redes sociais, listas de e-mail e nosso boletim eletrônico, para levar até a população os assuntos que nos são bastante importantes, em torno dos temas que a SOS Mata Atlântica trabalha, como por exemplo, a recomposição florestal, as áreas protegidas e a água limpa, bem como as mudanças climáticas. Trabalhamos acionando a imprensa e junto aos órgãos de mídia para levar essas informações ao maior número possível de pessoas, uma vez que elas precisam, sobretudo, estar sensibilizadas com o tema para depois o defender e partir para ações concretas.

Revista Saneas – Quais outras iniciativas estão atreladas a este projeto? E como eles repercutem na sociedade?

Gustavo Veronesi – Outra iniciativa que advém do “Observando os Rios”, por meio do qual os grupos observaram um dos parâmetros que trabalhamos, e é observado em campo é a quantidade de resíduos que tem na água do rio, naquele ponto de monitoramento em que o grupo está atuando. E é uma constante observar, principalmente, nos encontros remotos que fizemos ao longo dessa pandemia, em que ainda estamos, a quantidade de lixo, em todos os lugares. Então é muito comum encontrar resíduos, principalmente plásticos nos rios. Junto com a Ypê fizemos a “Campanha Rio sem Plástico” e estamos agora, nesse projeto piloto, atuando no Rio Tietê e no Rio Jundiaí, fazendo ecobarreiras e mensurando a quantidade de resíduos plásticos que cai nos nossos rios e, posteriormente, vão acabar inevitavelmente caindo nos oceanos.

Revista Saneas – As expectativas da SOS Mata Atlântica por meio dessa iniciativa estão sendo atendidas?

Gustavo Veronesi – Pensar que cada vez mais pessoas estão conscientemente sensíveis ao tema é um indicador que aponta nosso trabalho como algo importante e que demonstra o progresso da sociedade em ver que os temas ambientais estão cada vez mais nas conversas e nas ações.

Revista Saneas – Em termos gerais, como estão os trabalhos da Fundação para valorizar a conservação da mata atlântica no País? Está havendo um progresso? Qual o cenário em que nos encontramos, hoje, em nível nacional?

Gustavo Veronesi – A SOS Mata Atlântica tem diversas ações que visam à proteção da Mata Atlântica, tanto junto aos municípios, aos governos de Estados e Federal, quanto em relação ao Congresso Nacional, Senado Federal, assembleias legislativas e câmaras municipais, entre outras entidades públicas e privadas. Fazemos ainda um trabalho forte de advocacia para a proteção da Mata Atlântica. Existe um grande incentivo aos municípios, que fazem seus planos municipais de Mata Atlântica – isso consta na Lei da Mata Atlântica -, que também ajudamos a construir. É o único bioma que tem uma lei específica de proteção. Temos também o monitoramento da quantidade de floresta ainda em pé, através dos monitoramentos dos remanescentes da Mata Atlântica. Recentemente, lançamos o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, para acompanhar de forma mais precisa e em um tempo menor como está a situação da Mata Atlântica. Em suma, são várias ações que juntas vão trazendo o melhor cenário para esse bioma tão devastado e tão importante para o País, afinal cerca de 145 milhões de brasileiros vivem na Mata Atlântica e dependem das florestas para o seu cotidiano e seu bem-estar. E cada vez que tiramos a floresta de um determinado lugar, impactamos a vida das pessoas. 

Revista Saneas – Os últimos dois anos foram desafiadores em razão da pandemia de Covid-19, que afetou a continuidade de muitos trabalhos socioambientais. No caso da SOS Mata Atlântica, como vocês superaram esse desafio?

Gustavo Veronesi – Todos os setores foram bastante impactados pela pandemia e com a área de Meio Ambiente também não foi diferente, mas conseguimos lidar muito bem com isso. Toda a nossa equipe passou a trabalhar em home office. Conseguimos manter a nossa produção de mudas em nosso viveiro, no Centro de Experimentos Florestais, na cidade de Itu (SP), em parceria com a Heineken. Não paramos com os trabalhos, tomamos todos os cuidados, seguindo todos os protocolos de segurança e continuamos fazendo nossa produção de mudas, as recomposições florestais, apoio às áreas protegidas e na criação de RPPNs, entre outras iniciativas. Nossos grupos voluntários ficaram um tempo sem atuar em campo, sem fazer a análise da qualidade da água, mas aos poucos fomos voltando com a adoção de protocolos mais rígidos do que já tínhamos para fazer a análise da água. Estamos nos adaptando para continuar esse trabalho que é importante e, principalmente, inspirar a sociedade na defesa da Mata Atlântica.

Revista Saneas – E agora, que estamos começando 2022, em um momento de transição pós-pandêmica, quais são os planos da entidade?

Gustavo Veronesi – A SOS Mata Atlântica prevê dar continuidade a todo o planejamento que fizemos no ano passado, entendendo que ainda estamos numa pandemia e que precisamos tomar todos os cuidados inerentes a essa situação. Então seguimos em frente, mas com todos os cuidados possíveis.

Revista Saneas – Como a sociedade em geral pode participar das ações da Fundação SOS Mata Atlântica?

Gustavo Veronesi – A SOS Mata Atlântica abre as portas, principalmente, para voluntários participarem do projeto “Observando os Rios”. Eles podem entrar em contato através do nosso site www.sosma.org.br. Lá elas também podem assinar o nosso boletim, que passa todas as informações sobre as nossas atividades. E no site, ao navegar pelas nossas páginas, as pessoas podem se interessar por alguma causa ou em algum trabalho que nós desenvolvemos e queiram participar. É só entrar em contato conosco que daremos um retorno.