São Paulo, terra da garoa; São Paulo, locomotiva do Brasil

Jovem Pan: “Começou um novo dia, já volta que ia, é tempo de chegar... Todos parecem correr, não correm de, correm para. Para São Paulo crescer. Vambora, vambora, olha a hora, vambora, vambora...”- Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.

Era uma cidade rica que atraia grandes contingentes de migrantes na busca do Eldorado, mas o acelerado crescimento populacional, sem planejamento urbano, com grandes carências de infraestrutura básica, cobrava um alto preço da população.

“… os coeficientes de mortalidade infantil vinham registrando, desde alguns anos, valores crescentes, em função, principalmente, de variações desfavoráveis em fatores externos à Pasta, especialmente no que se refere a saneamento básico e à capacidade aquisitiva da população.”. relata o Dr. Walter Leser Secretário de Saúde no governo do interventor Sr. Roberto Abreu Sodré. Com Taxas de Mortalidade Infantil decrescentes desde 1.940, no início da década de 70 ocorre aumento substancial da TMI para 93 óbitos por 1.000 nascidos vivos, que em 1.975 ocasionou mais de 50.000 óbitos de recém-nascidos devido a doenças gastrointestinais de origem hídrica.

Em 1.970 foram recenseados no município de São Paulo, prefeito biônico Paulo Maluf, 5.978.977 habitantes dos quais 3,35 milhões tinham ligações de água conectadas em 5.875 km de redes de distribuição da SAEC-Superintendência de Água e Esgotos da Capital. Formando embrião da região metropolitana, orbitavam em torno da Capital, 23 cidades suburbanas que totalizavam 1,54 milhão de habitantes sendo 681 mil pessoas abastecidas com água potável, a maioria, 75%, nos municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Os demais 25% divididos em 14 cidades e em 8 inexistia atendimento público de água. Em resumo, nesta embrionária região metropolitana, 3,5 milhões de pessoas não tinham acesso a água potável.

Eram 8 sistemas produtores de água: Alto Cotia – 800 l/s; Baixo Cotia – 200 l/s; Cabuçu – 500 l/s; Cantareira – 200 l/s; Guarapiranga – 9.500 l/s; Rio Claro – 2.600 l/s; Rio Grande – 1.600 l/s e Tanque Grande – 50 l/s. Produção total de 15.430 l/s, com o Guarapiranga, Rio Claro e Alto Cotia aduzindo 12,9 m³/s de água tratada para os reservatórios que abastecem o centro da cidade: França Pinto, Barão de Capanema, Avenidas, Alameda Santos, Araçá, Consolação, Jabaquara, V. Mariana Moóca-Brás, Cajaiba e  Lapa. Com 85% de toda a produção, estes setores de abastecimento mantinham elevada regularidade no fornecimento de água. Nos demais setores predominava o rodízio de água.

Dois Planos Diretores de Água da época, HIBRACE/MME/GESP – Ministério de Minas e Energia/Governo de São Paulo e ASPLAN/COMASP – Companhia Metropolitana de Água de São Paulo, projetaram a demanda de água para 1.970, em, respectivamente, 30,7 m³/s e 33,9 m³/s, sendo que esta última projeção, COMASP, incorporou os grandes consumidores industriais.  As demandas projetadas eram mais que o dobro da capacidade instalada de tratamento de água, 15,43 m³/s, e abastecia pouco mais da metade da população, com severas intermitências no abastecimento.

O cenário era grave: elevadas Taxas de Mortalidade Infantil em crescimento, 3,5 milhões de pessoas se abastecendo de poços tirando água com baldes, grande parcela da população sofrendo com as faltas de água. Toda prioridade dos gestores estava nas obras de novos sistemas produtores mananciais/ETAs, adução/reservatórios e redes de distribuição de água. Na operação foi dado destaque para o controle da qualidade da água distribuída. A única menção a perdas de água nos relatórios foi o cálculo teórico de dimensionamento das redes que considerou perda média de 2,1 %.

A instalação de micromedidores (hidrômetros) objetivava essencialmente o faturamento das contas que no ano de 1.970, totalizou 239 milhões de m³, vazão de 7,58 m³/s, cerca de 50% do volume produzido, consumo per capta superior a 300 litros/habitante.dia, tudo indicando elevada perda de água que não fez parte da solução para a crise da falta de água e, consequentemente, da crise na saúde pública.

Atendendo determinação do PLANASA de se ter uma única empresa de saneamento em cada Estado da Federação, além de ser condição “sine qua non” para ter acesso aos recursos do BNH- Banco Nacional de Saneamento, foi promovido arranjo institucional de fusão das empresas que atuavam na região metropolitana de São Paulo e na baixada santista, dando origem a SABESP – Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo que passou a ser a responsável única para a solução do saneamento básico na metrópole paulista.

Na recém-criada SABESP, a DO-Diretoria de Operação, contava na sua estrutura com uma superintendência que tinha a função de atuar no gerenciamento de todo o processo de água. Com gestores altamente qualificados, sob o comando dos engenheiros José Carlos Berenhauser e Sidney Colombo, implementaram, com tecnologia sofisticada, o primeiro CCO- Centro de Controle Operacional da América Latina para o monitoramento integrado das Estações de Tratamento, das adutoras e reservatórios dos setores de abastecimento, possibilitando otimizar a partição  dos volumes produzidos através do IRA – Índice de Regularidade do Abastecimento, contribuindo de forma decisiva, com a redução das faltas de água na cidade de São Paulo. Na Divisão de Planejamento da Operação de Água, o engenheiro João Alberto Fávero e o tecnólogo Wilson Santini, desenvolveram, de forma pioneira no País, metodologia para o gerenciamento de perdas devido a vazamentos. Apesar de reconhecerem a existência de outras formas de perdas, mas que eram irrelevantes, consideravam os vazamentos responsáveis pela maior parte das perdas. Estatisticamente, quantificaram as ocorrências de vazamentos nos componentes da rede de distribuição: ramal de 50% a 60%; rede 25% a 30%; ferrule de 5% a 15% e registro de 5% a 10%. Definiram procedimentos para detecção de vazamentos visíveis, formas e tecnologias para os vazamentos não visíveis: pesquisa de vazamentos com equipamento acústico mecânico sem ou com medição de vazões nos distritos pitométricos usando a vazão mínima noturna, ou medição em consumo zero, ou o consumo mínimo noturno.  Avaliação do programa era através do Índice de Perdas, relação entre o volume micromedido e o volume produzido nas Estações de Tratamento de Água cujos dados eram administrados pelo engenheiro Guert Kaminski

Na década de 80, houve o início da redemocratização do País com o retorno do processo eleitoral para governadores. Por um período houve a transição de um governo militar em Brasília e um governador eleito nos Estados que refletiu no setor de saneamento de São Paulo, com o Banco Nacional de Habitação suspendendo os financiamentos para a Sabesp. Com a escassez de recursos para investimentos, priorizou-se a elaboração de projetos e obras de implantação de setores de abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo que culminaram no atual mosaico de abastecimento. As pesquisas de vazamentos foram parcialmente terceirizadas.

Em 1.992 conclui-se o Estudo de Águas Não Faturadas das empresas Lysa/Etep, projeto coordenado pela engenheira Regina Mei Onofre. O consultor francês Michael Vermash trouxe de forma inédita para o Brasil, a visão holística de gestão das Águas Não Faturadas abordando o todas as causas, quantificadas, que ocasionam perdas, de pronto segmentando em Perdas Físicas e Não Físicas. A primeira representação gráfica, em forma de “pizza”, para nossa surpresa, mostrava que as perdas de vazamentos representavam a metade do total das perdas de faturamento, 50% de Físicas e 50% de Não Físicas. Na “pizza” das Físicas, predominaram as decorrentes dos vazamentos não visíveis nos ramais. As Não Físicas foram exaustivamente detalhadas com a maioria originárias do processo comercial  que não eram consideradas nos estudos de perdas: falhas no cadastro comercial, ausência de controle das ligações inativas, falhas no processo de leitura/emissão/entrega de contas, ausência de atuação nas fraudes, ausência de gestão no sistema informatizado CSI, macro medidores com tecnologia ultrapassada e ineficiente manutenção, alto nível de sub medição que conduziu ao aprofundamento das pesquisas nos laboratórios de hidrômetros do Guarapiranga ocasionado pela obrigatoriedade normativa de instalação de caixas de água nas edificações, etc..

Esta tecnologia de Gestão das Águas Não Faturadas possibilitou o planejamento do Programa de Redução de Perdas que permite mobilizar todas as unidades operacionais que gerenciam o transporte e alocação das águas, que executam as manutenções, que fazem o faturamento, de desenvolvimento de tecnologias e inovações na busca de metas comuns a todos, ou seja, todos remam o barco da redução de perdas na mesma direção.

Em meio a revisão tarifária promovida pela OFWAT para as 10 companhias privadas inglesas, antecipada para 1.995 devido aos elevados valores das tarifas que proporcionaram elevados níveis de lucratividade, ocorreu o verão mais quente até então registrado na Inglaterra e com baixos índices pluviométricos que provocaram quedas alarmantes nos níveis dos reservatórios e algumas companhias foram obrigadas a implantar o racionamento de água, fato jamais ocorrido. O Jornal londrino Independent classificou as companhias privadas de água como as “odiosas instituições deste verão com perdas de 3,7 bilhões de m³ por dia por causa dos canos danificados na rede de distribuição”. O Financial Time publica e comercializa o Managing Water Leakege – Economic and technical Issues de autoria do engenheiro Allan Lambert, o mais completo compêndio sobre gestão das perdas reais de água, com capítulos abordando estudos desenvolvidos na região metropolitana de São Paulo de contratos de consultoria prestados para a Sabesp por Allan Lambert e Julian Thorton

Estas tecnologias do conhecimento permitem que a Sabesp trabalhe as perdas reais (Allan e Julian) e as perdas aparentes (Michael) com as melhores tecnologias disponíveis atualmente e que foram tropicalizadas pelos grandes especialistas da Sabesp.

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