Um tema que me chamou a atenção neste Carnaval foram as possibilidades de aprendizado que as empresas de saneamento de nosso país podem obter com as atuais situações de instabilidade empresarial de muitas corporações brasileiras que comercializam suas ações no mercado aberto, nas chamadas “bolsas de valores”.
Como observamos por meio das matérias amplamente divulgadas na chamada grande imprensa, a Bolsa de Valores de São Paulo foi o termômetro mais que perfeito para informar a temperatura e, em alguns casos, sobre o estado terminal de algumas delas, especialmente do mercado varejista, onde descuidados pequenos investidores viram seu suado capital se evaporar em poucos dias.
Obviamente que este tipo de acontecimento não está relacionado diretamente à gestão empresarial de nossas empresas de saneamento as quais, na maioria dos casos, estão cercadas de mecanismos e responsabilidades vinculadas ao chamado setor público, tais como: controle e prevenção aos chamados desvios administrativos cujas consequências, quando materializados, recaem diretamente sobre suas reputações empresariais e nas reputações pessoais de seus administradores, sejam ele dirigentes ou conselheiros.
Atualmente grande parte das empresas públicas brasileiras de saneamento tem entre suas principais preocupações o zelo em relação aos atos relacionados aos seus processos de governança corporativa, especialmente no que se refere às questões relacionadas ao cumprimento de suas missões institucionais, valores culturais e, quando é o caso, até de determinações de órgãos reguladores internacionais para aquelas que comercializam seus ativos internacionalmente.
As atuais preocupações dos administradores destas empresas não estão relacionadas apenas a seleção e à preparação técnica e profissional “tradicional” de suas futuras lideranças, voltadas apenas para a eficiência e para a eficácia, mas, também, a necessidade de concretização de um modelo de gestão que possibilite gerir a empresa “de perto”, em contraponto aos casos descritos pela grande imprensa no início deste texto, demonstrando sem dúvida alguma que a gestão empresarial “a distância” não é a maneira adequada de se gerir uma grande empresa, especialmente as que prestam os chamados serviços públicos.
Desta forma, é atribuição, não só do Poder Público, como acionista majoritário nestas empresas, formar novas lideranças preparadas para a melhor gestão dos processos que fazem parte do negócio “saneamento”, mas dos acionistas minoritários, aos quais cabe observar se estes processos e seus resultados nas referidas empresas estão alinhados com suas expectativas e cultura, empresarialmente falando, bem como em relação ao clima de trabalho diário nas mesmas.
Em nossa ótica, para que uma empresa pública de saneamento possa caminhar junto com os processos de transformação atual do chamado “novo normal” pós pandemia, devemos trabalhar de forma colaborativa e respeitosa entre os talentos disponíveis e inclusive, quando possível e necessário, buscar outras culturas empresariais que nos possam ser agregadas positivamente pois, ao contrário do que muitas de nossas atuais lideranças imaginam, o mundo digital sozinho não vai diminuir e nem tão pouco retirar as responsabilidades daqueles que estão em seus postos atuais de comando.
Finalmente, vale também destacar que é preciso que as culturas empresariais de nossas empresas de saneamento possibilitem aos colaboradores terem sempre em mente a importância dos serviços acertadamente chamados como “públicos”, cuja responsabilidade é de todos, independentemente de fazer parte do time de gestão ou como “servidor” pois, em última instância, servir à população da melhor forma e dentro dos limites estatutários e geográficos é o que mais espera nossa sociedade de todos nós.